sábado, 4 de janeiro de 2014

Um rolezinho no polo norte e tu voltou pro mesmo lugar


Dilemas. Paradoxos. Estava eu lembrando da parte 3 do livro “As viagens de Gulliver”, em que os habitantes do reino pensam, especulam tanto que acabam esquecendo-se da pessoa com quem falava e do assunto que era falado. No livro eles são “acordados” pelos chamados batedores. Aqui, no “planeta Terra chamando”, parece que lembramos do assunto somente quando ele vem novamente a tona, porém mal lembramos qual era a pessoa antes, e nem pensamos nesse meio tempo, que nunca acordamos de fato.

Há mais de uma semana ocorreu a série de movimentos denominados “rolezinhos”. Fiquei pensando e sem batedores para me ajudar acabei não escrevendo nada. O Natal também já se foi. Por mais que tenha sido há 4 dias, ele já parece muito distante de nós. Mas, pensando bem, e só eu resolver escrever sobre dilemas, paradoxos e puff...já estou escrevendo sobre eventos que se repetem mas apenas muda-se o contexto.

Diversos textos foram elaborados nos 10 dias anteriores sobre os rolezinhos que acho que praticamente qualquer coisa que eu disser agora soará repetitivo ou com cara de plágio. Só posso dizer que concordo com o aumento do policiamento, afinal em qualquer local quanto mais pessoas presentes, maior o número de policias deve ser para dar uma sensação de segurança ou, de fato, garanti-la. Concordo que o espaço é(ou deveria ser) livre, que todos devem ter o direito de circular, que é deprimente pessoas querendo controlar quem deve ou não estar em tal lugar, não por questões de saúde ou qualquer outra necessidade, mas simplesmente porque acham que determinado grupo vai desvalorizar o local.

Mas não concordo em generalizações. Entre 300 pessoas, pelo menos uma devia estar com más intenções, não há como ser utópico. Mas e se um grupo de classe-média alta, bem-vestidos, gravatas invés de bonés, aparecesse em um local onde eles são a minoria? A polícia também iria aumentar? É provável que sim, mas não para proteger a todos, mas sim para proteger os próprios que se candidataram a passear nesse local “estranho” para eles. Porque a classe-média alta não tem intenção de roubar artigos de shopping, afinal não precisam, podem muito bem comprar isso. Mas as más intenções continuam, só que de outras maneiras, como uma segregação.

Em resumo, foi bom isso acontecer. "Bom acontecer" não significa que é algo que eu gostaria que todos aderissem o conteúdo. É como um programa de televisão ruim. Eu não defendo que as pessoas apoiem as ideologias do programa, mas é bom que elas vejam que elas existem para poderem se tocar que às vezes o que você acha bom não é tão diferente do que você abomina e que devem ser criadas opções melhores. 


Assim como temos os “pobres alienados”, que acabam controlados pelos manipuladores do poder, temos esse tipo de alienação muito comum na classe-média, em que crescem conhecendo a pobreza como um “animal estranho” e correm para se proteger quando a avistam, assim como corremos quando vemos um urso selvagem. E o que tem tudo isso a ver com o polo norte?

Nos últimos anos,na semana de véspera do nascimento do menino Jesus,é comum vermos reportagens como: “Comerciante da 25 de março crê em aumento nas vendas agora que a terá mais clientes, vindos da nova classe-média”. Nova classe média também conhecida como a antiga pobreza só que agora com o poder de compra, fazendo o circulo capital girar, não é feliz para todos?

Jovens da periferia mostrando que agora também podem comprar. A pobreza “selvagem” mostra que agora são iguais aos que sempre puderam. E nada existe sem comparação. Pessoas não postam foto delas comendo no “bar do Joca”, que foi o primeiro lugar que apareceu quando elas estavam morrendo de fome. Elas postam em lugares caros, estão certas, querem mostrar o melhor delas. Só que ai descobrem que o melhor delas não está nelas mesmas, que não se sentem melhor por terem peças da ultimas Fashion-Week, mas se sentem melhor por terem e outras pessoa não terem.É bom que elas descubram isso, ou as melhor, as façamos descobrir, e que busquem algo nelas mesmas. Tanto a “nova classe-média” como a antiga. Afinal, será que a ostentação vale tanto a pena?

Então vem o natal, que ganhamos presentes que iremos esquecer em breve. Que realmente queremos lembrar pelo valor e não pela lembrança. Não estou defendendo que aquele par de meias já manchado que você ganhou seja mais importante porque foi dado com “boa-intenção”. Mas é como aquela roupa que, mesmo não nos servindo mais, hesitamos em doar por todos bons momentos que tivemos com ela. Depois, pensamos bem e vemos que queremos que mais alguém também tenha essa sensação e não nos importamos mais em possuí-la. Não importa o preço, que traga bons momentos.

Espero que você tenha pedido presentes que te tragam boas lembranças no natal, e que o bem velinho tenha lhe atendido. E que essa também seja sua meta de ano-novo. Que em 2014 eu tenha boas lembranças, ou seja, bons momentos. Afinal não há como doar lembranças, elas são totalmente únicas. São o sinal de que você não voltou pro mesmo lugar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário