“...o remorso crônico é um sentimento dos mais
indesejáveis. Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-se, faça as reparações que
puder e trate de comportar-se melhor na próxima vez. Não deve, de modo algum,
pôr-se a remoer suas más ações. Espojar-se na lama não é a melhor maneira de
ficar limpo.”
Em curtas
palavras: “Não adianta chorar pelo leite derramado “. A não ser que suas lágrimas absorvam o leite e ainda
representem o arrependimento, e o arrependimento se arrependa de ter sido
arrependido, deixando futuras novas reparações, de novas situações, sem
sentido.
O primeiro trecho é parte do
prefácio de Admirável Mundo Novo. Nele, Huxley disserta sobre as mudanças, sobre
como encara o livro que ele próprio escreveu após alguns anos. Imagine, sua
obra é consagrada, você é conhecido e identificado não mais como a si mesmo,
mas como o autor de x coisa, sendo que com o tempo você nem concorda mais com
aquilo.
“...defeitos são consideráveis;
mas, para corrigi-los, eu teria de reescrever o livro- e, ao reescrevê-lo, como
uma outra pessoa, mais velha, provavelmente eliminaria não apenas as falhas da
narrativa, mas também os méritos que pudesse ter tido originalmente.”
Corrigir o passado seria como um livro
interminável. O nome do personagem é
Harry. Ah não, prefiro Jack agora. Pensando bem, talvez Bento pudesse ser
melhor..Nossa vida é um imenso livro em mudanças. Ora apanhados de contos, ora
capítulos que não terminam com suspense, ora um romance sem romantismo dentro
de um romance quase documentário.
Não só livros, a arte em si, filmes, quadros, poemas
curtos, são a essência daquele pensamento, daquele momento de imaginação.
Algumas essências são mais marcantes. Algumas melhor planejadas. Algumas,
essências que seriam melhor não terem sido. Outras são essências mais
essenciais.
E, dentro do livro mutante da vida, podemos criar vários
pensamentos, várias essências. A essência é imutável, eu sei. Melhor dizendo, a
essência do pensamento é imutável, o que não significa que não mudemos de
pensamento. É claro, não mudamos simplesmente do nada. Palavras,
acontecimentos, tudo influi em algo. Mudar de pensamento é vida. Mudar de
pensamento apenas para se beneficiar em certa ocasião, fingir concordar com o
que não pensa de fato é hipocrisia, falsidade, falta de coerência.
Mudar de pensamento não é abandonar o passado. O
passado define o futuro, e o presente é o que acontece para as definições. Eu
respondo pelo meu passado, para que eu possa primeiro abandoná-lo, realizar essa
“re-educação”(esse, definitivamente, não é o termo. A educação é
constante,aprendemos e desaprendemos, apenas precisamos de oportunidades e métodos
que possibilitem nós mesmos evitarmos novas punições, ou melhor, que a punição
não seja apenas um modo de justificar, mas sim de tornar a mudança possível). E
cabe só a nós “abandonarmos” o passado. A sociedade também deve não nos pré-conceituar
pelo o que já nem somos mais.
Eu não desejo tanto a fama. Muito menos repentina,
por um único acontecimento. Ok, com
certeza gostaria de fazer algo que repercutisse. Mas, teria quer algo que eu tivesse
gostado muito de fazer.
Imagine passarem anos e você continuar a fazendo seja
lá o que, porém, continuar a ser lembrado por uma só coisa. Quem é você? Sou o ator daquele filme que nem
gosto mais. O autor da música que nem ouço mais. A sub-celebridade que teve 5
minutos de fama, mas nenhum momento em que realmente se importassem com minha vida.
Claro que tudo isso resume o que fiz, o que fui. Que
tudo isso faz as pessoas se lembrarem de mim.
Que, quando eu partir, faça os
menos próximos se lembrarem de mim pelos meus pais, pelas minhas características
físicas., por algum momento específico. Entretanto, que os mais próximos se
lembrem de momentos grandes ou pequenos. Que guardem algum com mais
intensidade, mas não me definam por profissão, passado distante ou presente
delirante. Que se lembrem de mim mesmo
como mim mesmo, com uma definição única, não por palavras que agrupem , sem
identidade.
E, principalmente, que eu possa escrever no meu
epitáfio:
“Fui eu mesmo. Isso foi bom para mim. Espero que bom
para o mundo.”