terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Devia ter...

“...o remorso crônico é um sentimento dos mais indesejáveis. Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-se, faça as reparações que puder e trate de comportar-se melhor na próxima vez. Não deve, de modo algum, pôr-se a remoer suas más ações. Espojar-se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo.”


Em curtas palavras: “Não adianta chorar pelo leite derramado “. A não ser que suas lágrimas absorvam o leite e ainda representem o arrependimento, e o arrependimento se arrependa de ter sido arrependido, deixando futuras novas reparações, de novas situações, sem sentido.

 

O primeiro trecho é parte do prefácio de Admirável Mundo Novo. Nele, Huxley disserta sobre as mudanças, sobre como encara o livro que ele próprio escreveu após alguns anos. Imagine, sua obra é consagrada, você é conhecido e identificado não mais como a si mesmo, mas como o autor de x coisa, sendo que com o tempo você nem concorda mais com aquilo.

 

“...defeitos são consideráveis; mas, para corrigi-los, eu teria de reescrever o livro- e, ao reescrevê-lo, como uma outra pessoa, mais velha, provavelmente eliminaria não apenas as falhas da narrativa, mas também os méritos que pudesse ter tido originalmente.”

 

Corrigir o passado seria como um livro interminável.  O nome do personagem é Harry. Ah não, prefiro Jack agora. Pensando bem, talvez Bento pudesse ser melhor..Nossa vida é um imenso livro em mudanças. Ora apanhados de contos, ora capítulos que não terminam com suspense, ora um romance sem romantismo dentro de um romance quase documentário.

Não só livros, a arte em si, filmes, quadros, poemas curtos, são a essência daquele pensamento, daquele momento de imaginação. Algumas essências são mais marcantes. Algumas melhor planejadas. Algumas, essências que seriam melhor não terem sido. Outras são essências mais essenciais.

E, dentro do livro mutante da vida, podemos criar vários pensamentos, várias essências. A essência é imutável, eu sei. Melhor dizendo, a essência do pensamento é imutável, o que não significa que não mudemos de pensamento. É claro, não mudamos simplesmente do nada. Palavras, acontecimentos, tudo influi em algo. Mudar de pensamento é vida. Mudar de pensamento apenas para se beneficiar em certa ocasião, fingir concordar com o que não pensa de fato é hipocrisia, falsidade, falta de coerência.

Mudar de pensamento não é abandonar o passado. O passado define o futuro, e o presente é o que acontece para as definições. Eu respondo pelo meu passado, para que eu possa primeiro abandoná-lo, realizar essa “re-educação”(esse, definitivamente, não é o termo. A educação é constante,aprendemos e desaprendemos, apenas precisamos de oportunidades e métodos que possibilitem nós mesmos evitarmos novas punições, ou melhor, que a punição não seja apenas um modo de justificar, mas sim de tornar a mudança possível). E cabe só a nós “abandonarmos” o passado. A sociedade também deve não nos pré-conceituar pelo o que já nem somos mais.

Eu não desejo tanto a fama. Muito menos repentina, por um único acontecimento.  Ok, com certeza gostaria de fazer algo que repercutisse. Mas, teria quer algo que eu tivesse gostado muito de fazer.

Imagine passarem anos e você continuar a fazendo seja lá o que, porém, continuar a ser lembrado por uma só coisa.  Quem é você? Sou o ator daquele filme que nem gosto mais. O autor da música que nem ouço mais. A sub-celebridade que teve 5 minutos de fama, mas nenhum momento em que realmente se importassem com minha vida.

Claro que tudo isso resume o que fiz, o que fui. Que tudo isso faz as pessoas se lembrarem de mim.  Que, quando eu partir,  faça os menos próximos se lembrarem de mim pelos meus pais, pelas minhas características físicas., por algum momento específico. Entretanto, que os mais próximos se lembrem de momentos grandes ou pequenos. Que guardem algum com mais intensidade, mas não me definam por profissão, passado distante ou presente delirante.  Que se lembrem de mim mesmo como mim mesmo, com uma definição única, não por palavras que agrupem , sem identidade.

E, principalmente, que eu possa escrever no meu epitáfio:

“Fui eu mesmo. Isso foi bom para mim. Espero que bom para o mundo.”

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A Culpa é Das Estrelas

"Sabe o que eu acho mais incrivel hoje em dia? Essas adolescentes que arrumam filho cedo e querem botar banca dentro do onibus. Filha se vc engravidou de um pé rapado que não condição de ter um carro pra te levar e buscar onde precisa PROBLEMA É SEU! E a outra enchendo a boca pra dizer que é gestante achando que alguém tem obrigação de ceder espaço ou dar prioridade pra ela. Filha se vc foi burra e não soube se cuidar PROBLEMA É SEU! Aguente a consequencia da sua irresponsabilidade sem gritar com o motorista ou culpar qualquer um por conta da sua cagada. Pq nem eu nem o motorista nem ninguem temos nada haver com isso.... Obrigado”
É isso ai, vamos começar logo assim, falo mesmo, o povo precisa de verdades. E a verdade é que essas palavras não são minhas. Mas é bom começar assim. Humanos tem um tesão por polêmicas até maior que o sexual.
O célebre trecho foi publicado numa página com 13 mil “curtidores”A postagem em si, se não me engano, obteve mais de 30 likes, mais de 30 pessoas que gostam dessas palavras. Claro que os curtidores em geral não a curtem a tais motivos. A página se chama “Barueri da Depressão", divulga acontecimentos da região, reclama por melhoras e publica piadas “típicas do face”.
Pois bem, o que podemos pensar desse comentário? Qual é o maior absurdo do trecho?
    A) Ninguém deve dar prioridade para grávidas, principalmente as adolescentes, porque a culpa delas é ainda maior. (Não vamos nem falar dos idosos, como são culpados por estarem velhos)
    B)   NINGUEM TEMOS HAVER com isso
   C) Ninguém ter nada a ver mesmo com isso(afinal a menina engravidou sozinha,ou um anjo foi enviado dizendo que ela iria dar a luz)
    D) Engravidar pode, só não pode de um pé rapado. Pé rapado = quem não tem carro
Ok, admito que concordo com o mínimo trecho “sem gritar com o motorista ou culpar qualquer um”(sem palavras a mais ou a menos). Apesar de que os passageiros têm culpa. Não pela fecundação, é claro. Porém, pela falta de consciência. Obrigação ninguém tem mesmo. Nem deveria. Assentos demarcados, fila preferencial...nada disso seria necessário se a consciência fosse preferencial. Mas, tanto felizmente como infelizmente, são. Enfim, uma simples pessoa em perfeitas condições se levantando de um lugar e fazendo o sacrifício de ficar 20 minutos em pé evitaria qualquer incômodo. 
O autor tentou se justificar, dizendo que o que quis dar a entender era justamente algo como o trecho que concordo.Só que a justificativa veio tarde, bem tarde. Não antes de comentários como :
  •     “Odeio crianças”
  •     “Quero que se lasque mesmo”
  •     “Pelo jeito só tem grávida adolescente aqui”(Afinal, para ser contra a tortura é preciso que você já tenha sido torturado, não é? Não????!!, tinha certeza que aprendi na sétima série).
E, por fim, questionou a interpretação dos leitores(uma desculpa que pode realmente acabar servindo. Basta uma rápida olhada pelos comentários de portais na internet e fica nítido as más-interpretações). Falando que claramente queria dar a entender somente a frase que concordei. Erro de interpretação ou escrita? Se bem que os dois caminham juntos. Não a ortografia em si. Mas a coerência. Se você analisa/interpreta mal, você também fará o mesmo com suas próprias palavras, sua escrita.
Não que eu seja o John Lennon, ou o Jesus, ou o Rockefeller, ou qualquer um dos seus heróis, que morreram ou não de overdose, da interpretação. Entretanto, não é muito difícil saber realmente a mensagem que se quer passar, no caso a falta de mensagem e o apoio a falta de consciência, quando ela está em maioria e, para facilitar, com partes em letras maiúsculas.
Mas, não quero que o foco seja a crítica de uma postagem. A questão é pensar: qual das afirmações procede: “o público recebe o que o público quer”? Ou “o público recebe o que querem que ele goste?”
Uma postagem qualquer, um programa qualquer,ele reflete a sociedade ou ele faz com que a sociedade se espelhe nele? Claro que sempre há influências. Mas, de quem é a culpa, quem é o maior responsável por gostarmos, por exemplo, de um livro? A influência que ele teve sobre nós ou nossa prévias influências?
Acredito, ou melhor, quero acreditar, que um pouco dos dois.Que acabamos escolhendo entre as opções possíveis na nossa vida, o que muda, e muito, para cada um. Escolhemos, porém somos o que podemos ser. Eu poderia até ser Jesus, se soubesse fazer milagres, ser John Lennon, se tivesse uma boa voz, ser Rockefeller, se fosse um bom investidor. E é claro, se eu quisesse.
O problema da grávida talvez tenha sido uma má escolha.E más escolhas não melhoram com outras más escolhas dos outros.Se torna um loop infinito, até concluirmos mesmo que a culpa é das estrelas, do Sol que permite vida ao mundo, das partículas densas antes do Big Bang.
“Quem ocupa o trono tem culpa
 Quem oculta o crime também                                                              
 Quem duvida da vida tem culpa                                                         
 Quem evita a dúvida também tem

sábado, 25 de janeiro de 2014

Rosebud


Francisco acorda no meio da noite e corre para o banheiro. Tem a impressão que vai colocar suas tripas para fora. Mal consegue tossir com a dor. Seu ar some. Na sua idade ficar 1 minuto sem ar já seria um milagre. Tanto eu como você sabemos que o quero dizer não é sua idade em si. Seu ex-colega de classe, Edvaldo, tem os mesmos 75 anos e caminha todas as manhãs, com velocidade maior que muitos jovens. Com sua idade quero dizer com seus pulmões que já trabalham de maneira insuficiente, suas constantes inflamações na garganta, seu corpo cada vez mais fraco. Pensando bem, com 1 minuto ele não seria o recebedor de um milagre de deus, mas sim o próprio Deus. 30 segundos já realizariam o milagre.

Dizem que antes de morrer sua vida inteira passa diante dos seus olhos. Mesmo com a visão quase nula. Alguns dizem que dura um minuto, outros dizem que dura o tempo que for necessário, que é como se o tempo parasse. 75 anos. Cada ano tem 12 meses, cada mês 30 dias..Ok, vamos te poupar da encheção de linguiça. Não contando os 4 dias desde que comemorou seu aniversário, Francisco viveu  3942000 minutos na vida que, supostamente, estaria assistindo agora.

Os 30 segundos irão passar do mesmo jeito. Serão 30 segundos desesperadores, mínimos, para a aluna que ainda não respondeu nem metade da prova.  Serão uma eternidade para o pai que espera o resultado da operação do filho.  Serão o tempo de um anúncio de coca-cola na televisão. Mas, para Francisco, terão de ser uma vida.

No que o tio Chico pensará? Tanta coisa. Sua falecida esposa e os momentos que passaram juntos. Seus 3 filhos. A energia e os sonhos da adolescência, os amores e sonhos não conquistados. Sua família. Seus pais. Os momentos felizes da sua infância. Na última pessoa com quem ele conversou, no caso, a caixa do mercado que nem sabe o nome. Naquela bomba de chocolate que comeu, como estava boa. Naquele dia que ele ficou preso dentro do banheir..ta ok de novo,chega. Há tantas coisas que ele fez, que conquistou, que foi, que teve. Ou ele pode simplesmente pensar em algo que nunca teve ou obteve.

 

O título se refere as últimas palavras de Charles Foster Kane, protagonista do clássico “Citizen Kane”(Cidadão Kane). Se você já assistiu, provavelmente abriu um sorriso de canto ao ler o título. Se não assistiu, ta aí uma oportunidade para também sorrir de canto.

 

O filme é de 1941, então não espere incríveis efeitos. Porém, mesmo assim, os efeitos impressionam para a época. Tanto que é considerado por muitos o melhor filme da história, devido a toda revolução cinematográfica para a época, sem falar, é claro, na sua história. Óbvio que o prestígio é bom, o sucesso faz com que mais pessoas conheçam a obra. Porém, às vezes, acaba prejudicando nossas expectativas. É melhor não esperar tanto e acabar se surpreendendo.


Durante o filme, ficamos tentados a descobrir o que é Rosebud. As últimas palavras de um magnata, um homem que construiu um império jornalístico, deve ser algo espetacular, não? Ainda mais em uma vida de alguém que teve de tudo. “I don't think there's one word that can describe a man’s life(eu não acho que exista uma palavra que possa resumir a vida de um homem)é uma das minhas frases favoritas do filme. E, ao longo do mesmo, vamos descobrindo que Charles, na realidade, não teve de tudo, muito pelo contrário.

O garoto Charles, na sua infância, foi “vendido” para Thatcher. Essa sua venda o permite juntar milhões em investimentos e, posteriormente, conquistar tanto na sua vida. Mas foi na vida dele mesmo que ele conquistou? Charles parecia ser um homem que fazia tudo do seu jeito, não aceitava opinião alheia. Porém, isso é algo bom? E será que foi, de fato, tudo da maneira dele?

Concordo com o que li certa vez.Somos pródigos em formar nossos “Cidadãos Kane”.Porém, os nossos não são infelizes. Sem mais Kane, antes que eu dê spoiler. Voltemos a Chico.

Francisco, um homem que teve vida extremamente comum. Ainda assim, um cidadão Kane. Todas as vezes que foi “vendido”, ou pior, todas as vezes que vendeu a si próprio. Não pense mal, Chicão nunca foi gigolô. Só que existe muito mais para se vender, por preços além do dinheiro.


Acho que já passaram bem mais que 30 segundos. Afinal, o que diabos Francisco pensou de especial nos seus últimos suspiros de vida? Já não importa mais. “Eu não acho que uma palavra possa resumir a vida de alguém”. Nem um único pensamento. A vida não se resume na morte.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Palavras, apenas

Não, o tema não é algo como "eu quero ações e não palavras" Que tal um subtítulo então : Somos livres?

Sabemos que a web fez tanto sucesso porque nos proporciona uma incrível e saborosa sensação de liberdade. Mas qual é o conceito de liberdade? Alguns dizem que são livres, mas vivem numa liberdade vigiada. Outros ao considerados livres, mas são aprisionados por si mesmos. Liberdade pra ir e vir, liberdade de visão, liberdade de expressão. O último termo é ainda mais complicado de explicar. Pois, só em simplesmente lê-la, automaticamente em liberdade de expressar o que quiser, mesmo que ofenda o outro. E sim, eu concordo que liberdade de expressão é isso. O que me faz não concordar que nem sempre a liberdade de expressão é positiva.

“ESPERA AI, VOCÊ QUER DIZER QUE É A FAVOR DA CENSURA? SEU FASCISTA!” Definitivamente não. Sou totalmente contra a censura. Assim como sou contra a injustiça. Você ter liberdade de expressão te dá o direito de usar palavras para humilhar, desmoralizar, oprimir o que ou quem te der na telha. Mas não te dá o direito de ficar impune por isso.  Na censura seu discurso seria impedido de ser exibido. Na liberdade de expressão todos saberiam que você disse tais palavras e, consequentemente, saberão o quão arrogante e preconceituoso você é, para assim não lhe dar atenção.      
                    
A censura existiu (e ainda existe) para impedir que tais ideologias fossem passadas para uma nação.  Mas se uma ideologia é opressora não é melhor impedi-la de ser ouvida logo? Sim, ma não por censura. O que queremos é justamente que elas não se espalhem. Que nós mesmos tenhamos consciência para ignorá-las, irmos contra o que segrega e, principalmente, não a aderirmos.

E, com essas confusões entre palavras e conceitos, que muitas discussões são geradas. Tanto por falta de interpretação como, às vezes, por falha do escritor.Essa é uma das razões para se valorizar o conhecimento, que te faz conhecer mais palavras para interpretar e ser melhor interpretado. Quanto maior a novilíngua, menor a liberdade. Quanto menor a expressão, maior o amor ao Grande Irmão.

 E, mesmo com cerca de 400 mil palavras em nossa língua,(segundo a geradora de conceitos Wikipedia), ainda há vezes que não sabemos simplesmente com que palavras nos expressar ou o que as palavras expressam. 

Mas, e quanto a pergunta inicial, até onde somos livres? Vamos aderir aqueles que dizem que tudo depende de comparação. Você é livre quando se sente livre, quando sua cabeça diz que há liberdade esta tanto no seu banheiro como no mercado da esquina. Só que, a partir do momento que você observa que existem meios para ser ainda mais livre, você já volta a achar que nem está perto da chave.

Desde criança eu imagino como seria o mundo sem x coisas. Você também já deve ter imaginado. Escova de dentes, óculos, computadores, coca-cola. 

Algumas coisas você acha que nos deixam mais livres, por nos permitirem opções. Eu sou livre para ter uma escova de dentes e não ter cáries. Mas isso não significa que as sociedades antigas, de uma época onde as escovas de dentes nem existiam, não eram livres pelo simples fato de não poderem ter hálito de menta.

Outras você acha que nos prendem. O dinheiro, por exemplo. Se te pedissem pra descrever o que ele é, o que você diria? Que é uma maneira de trocar coisas, de dar valores as coisas? Que o causador da fome mundial? Que é um pedaço de papel? Que é aquilo que você consegue depois de muito suor? Várias de teorias de organização econômica, diversas opiniões dizendo se a presença dele é positiva ou negativa e ele continua ali, apenas uma palavra, gerando glória e ruína, deixando-nos dependentes da nossa criação.

Agora, pense em outra palavrinha. Tempo. O que veio a sua mente? Um relógio de pulso? A hora do seu despertador no celular? O nascer do sol? Uma linha do tempo? Seu passado? Sabemos que o tempo existe, pois as coisas não aconteceram ao mesmo tempo e continuam não acontecendo.

Mas você consegue imaginar como seria a vida sem nenhuma tentativa de medir o tempo? Sem calendários, relógios, ampulhetas ou qualquer outro instrumento. Imagine que você vá dormir agora e quando acordar nada irá existir. Como as padarias saberão que hora abrir? Como sue chefe saberá que você está atrasado? Como Rafael saberá o horário que tem que estar no aeroporto? Como o futuro casal apaixonado vai fazer para estarem lá na hora marcada? Será que todos vão ter que reaprender a se orientar pelo sol? E, mesmo se aprenderem, conseguirão com tal precisão? E a dieta de Ana que diz que ela precisa tomar um chá sem açúcar exatamente as 10 e 15(nem 14 nem 16)?

Eu, realmente, não consigo imaginar. Talvez as pessoas passem a se importar bem menos com tempo perdido, sendo ou não sendo tão jovem. Porque não irá ter nada marcando quando tempo ela passou desperdiçando, ou se preocupando com o sono não vir. Apenas viver bem, sem importar que dia ou hora é. Ainda assim, será que as coisas dariam certo? Ou precisamos de pelo menos essa medida para controle?

Porém, novamente, e a pergunta inicial: Somos livres? Livre é apenas uma palavra sem definição concreta. Todos os conceitos que ela lhe traz pode dizer algo. Você pode ter opções, dentre todas que acha possível, e exerce-las com liberdade, dentro de tudo aquilo que lhe é liberdade? É quase impossível que sim. Então, pelo menos, que tentemos ser livres e libertos por nós mesmos. Sempre poderia ser melhor. Melhor, apenas uma palavra, uma palavra que expressa comparação. E comparar não importa se de fato, o melhor foi o seu melhor.

E é melhor eu não gastar mais seu tempo com mais palavras. É claro que você foi livre para ter fechado quando quisesse mas..relógios, semáforos, fins.


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Crying lightning



Outside the cafe

By the cracker factory


You were practicing


A magic trick

(im)Parcialidade de Criação


Bem, isto é um blog e, por mais que não pareça quando se está atrás de uma tela, é escrito por uma pessoa. Não vemos um fio devida através dos fios. Esquecemos que somos formados por um circuito ainda mais complexo. Como se aquelas palavras digitadas não tivessem realmente saído de sua mente.Como se para ser anônimo fosse necessário alimentar uma doença, oprimir, nos deixar ainda mais vazios. Como se precisássemos do anonimato para falar do que (e o que) quiser. 

As pessoas pensam que todos precisam ser parciais, que imparcialidade é sinônimo de educação. E que, se escondendo atrás de um monitor, você não precisa se preocupar com isso e mostrar sua opinião como bem quiser. E muitas querem exibi-la sem pensar, deixar claro que tem liberdade, mas são livremente idiotas.

Queremos mostrar nossa opinião e por ser nossa ela já deixa de ser imparcial. Por mais parecidos que sejam os pensamentos, os ideais e até as experiências de certa pessoa, as visões nunca são as mesmas. Um determinado ângulo, um olhar desviado para observar a bela moça na esquerda, outro para ver o menino chorando na fila da frente e pronto, já temos bem mais de uma versão da história. Isso só falando da parte descritiva, do que muitas vezes chamamos de notícia.

Isso quer dizer que nunca os jornalistas falam de fato o que aconteceu? Sim e não. Nem os jornalistas de ninguém. As visões nunca são as mesmas nem totalmente verdadeiras. A verdade como Sócrates a descreve talvez exista mas não conseguimos a absorver totalmente. Nem tem como conseguirmos a não ser que nós humanos tivéssemos as características atribuídas aos imortais deuses, oniscientes e onipresentes.

Uma sinopse de um filme(uma gravação que contem as mesmas imagens para todos), por exemplo, é basicamente a mesma em todos portais, só as palavras usadas para escrevê-las. Mas os significados que essas palavras passam para cada um são muito diferentes. Concordo quando diz que qualquer um pode escrever uma notícia, uma análise. Assim como qualquer um pode fazer uma cirurgia, qualquer um pode ser o tradutor na cerimônia de enterro de Nelson Mandela, qualquer um pode ser Elvis. Só não garantimos que será exatamente igual, com a mesma qualidade, que qualquer um pode ser um bom Elvis. Oras bolas, não é por isso que procura se escolher os melhores?

Chega a ser desconfortável essa insegurança. Pra que estudamos se não precisa do diploma? Você estuda pelo diploma ou para ser o melhor? Outro exemplo está em locais que não permitem nada, desde máquinas fotográficas até uma bebida comprada fora do local.Querem nos fazer comprar o produto deles não por opção própria mas sim por falta de opção. Deve ser triste realizar diversos estudos e saber que as pessoas escolhem seu produto desse jeito, não porque você se garante pela qualidade. O evento seria da sua família, as fotos das suas lembranças, mas são as empresas que querem possuir tudo isso. Você não pode beber um suco, você tem que beber O NOSSO suco.

E essa necessidade de posse não é exclusiva as empresas. Muitas vezes só nos sentimos a vontade para expressar-nos como realmente queremos quando achamos que possuímos a coisa. “Essa é minha casa e eu faço o que quiser aqui.” “Esse é o meu filho e eu falo o que quiser para ele.” Na web também é assim:
 “Meu facebook, falo o que quiser. Não gostou me exclua”. Realmente você fala o que quiser por direito assim como, por direito, recebe as resposta que os outros quiserem.

O facebook não é propriamente seu. Nem do seu amigo que já possuía conta antes de 2009, nem do próprio Mark Zuckerberg. Ele é o criador do site, assim como você é o criador do seu perfil, da sua conta. O nome já diz “rede social”, pessoas interagem lá, “socializam” lá. Cada um cria uma parte do conteúdo, o site precisa das pessoas para espalhar seu sucesso. Porém, ao que parece, as pessoas não perceberam isso e estão realmente achando que necessitam de sites para viver.

Temos o poder da criação, o que foi criado por José vai sempre ter sido criado por José. Mas não temos o poder de garantir a posse eterna. Nossas criações podem acabar em outros planos. Somos todos Victors Frankensteins. Até porque imagine um mundo onde os criadores guardassem suas criações apenas para si mesmas. Um mundo em que todos precisariam saber circuitos elétricos para poder desfrutar de energia elétrica em casa.

Sendo assim, está mais do que claro que o blog contém a opinião do seu autor. Porém, a opinião do autor contém muitas outras opiniões para ser formada. Minha própria imparcialidade, dita de maneira sincera, já é parcial. Se entre 1 e10 escolho 5, não significa que quero agradar os dois lados. As vezes realmente prefiro o 5, acho que o melhor é o equilíbrio entre um lado e o outro, ou as mistura de certos elementos que cada um possui, e vou tentar argumentar para isso.

E é como nessas redações escolares ou nas que fazemos para o glorioso(ou desastroso) vestibular. Não incluímos “eu acho”, “na minha opinião”, justamente porque já está incluso a ideia de que essa é a verdade para você e que você quer transmiti-la, convencer o leitor. Portanto, se minhas opiniões aqui escritas forem opressoras,me ignorem ou melhor, tentem me apresentar outras ideias, me corrigir. Mas não garanto que será fácil nem difícil. E não garanto nenhum lado por pura parcialidade.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Nada


Acordei às 11 e meia da manhã. Fui comer meu café da manhã como todos fazem. Observei o sol escaldante e resolvi não sair de casa, não queria ficar suado. Mas rezei para meu bom Deus que não chovesse no domingo. No domingo eu vou pra praia e chover é o que não pode! Comi um sanduíche de tarde, tava com preguiça de fazer almoço. A empregada teve que cuidar do maldito filho e meus pais nem para ter feito algo, aff. Aí resolvi assistir algum filme, emendei logo uma trilogia inteira. Já era 9 da noite e os velhos ainda não tinham chego, saíram mais tarde do trabalho e ainda resolveram passar na minha tia e ela deve ter começado a falar meia hora sobre como foi a campanha comunitária cuja ela faz parte, que ótimo. Não to a fim de ir lá também. Porra, o jeito é pedir uma pizza com meu próprio dinheiro que estava guardando (mas, pra ser sincero, não sei pra que estou guardando).

Hoje eu, simplesmente, não fiz nada.

Matheus, 15 anos, Leblon

Acordei o mais cedo possível. Nem tomei café da manhã. Eu até podia ter feito um sanduíche mas eu sabia que se eu fizesse um de manhã, de tarde eu ia ficar sem.Mamãe tinha prometido que ia me levar na praça do centro da cidade. Lá, todo ano, eles doam brinquedos, roupas, essas coisas que fazem perto do natal. As pessoas ficam mais bondosas nessa época, não sei porquê. Ou pelo menos parecem se importar mais uma com as outras. Tem que chegar cedo que as melhores coisas eles sempre pegam primeiro, chegam até a brigar, mesmo a maioria ali sendo da igreja. Eu ainda não sei se acredito muito em Deus, mas fico quieto por medo de mamãe brigar. Mesmo assim hoje eu rezei pra ele pra que mamãe pudesse comprar algo pra mim além das doações. Acho que ela fica mais feliz por me dar do que eu por receber. Ano passado ganhei uma camisa que odiei meus amigos me zuaram na rua. Pelo menos ela era confortável. E mamãe gostava dela. E ver mamãe feliz me deixa feliz.
Ficamos lá o maior tempo possível, estavam dando cachorro-quente. Só que invés de voltar pra casa, mamãe disse que ia me levar pra outro lugar, ia dar um presente adiantado. Fomos ao cinema. Acho que faziam quase 2 anos que eu não ia ver um filme naquela telona.

Eu comi bem e vi um filme. Hoje foi um dia legal.

Diego, 11 anos, interior da Bahia

Acordar as 5 e meia é um saco! Fui pra escola, acho que dormi umas duas aulas. Uma foi a de Literatura, se já não bastasse livros agora a professora queria relacionar alguma coisa com música, e só coisa chata.Outra foi a de Sociologia. Não aguentava mais aquela discussão que foi desde o casamento homossexual até a ditadura militar. Pelo menos depois da aula pude dar uns pega na minha namorada. Mas ela tá chata ultimamente, beijar ela não é nada de mais. Só que não vou terminar, as pessoas te olham melhor quando você namora. Depois voltei pra casa e fui jogar videogame, assistir TV .

Hoje eu, simplesmente, não fiz nada.

Júlio, 16 anos, grande São Paulo

Acordar tão cedo é difícil, mas vale a pena. Fui bem cedo encontrar a Kate, num horário que não tenho chances de nenhum conhecido me ver. Porque se verem irão contar a meus pais e, mesmo eu sendo de maior, eles me espancariam. Então fomos pro apartamento dela. Eu nem podia ficar muito tempo e acabamos não fazendo nada demais, bem menos do que queríamos. Pelo menos alguns beijos apaixonados já que isso em público é quase impossível. Já falamos até em nos casar porém isso sim é impossível, ainda mais depois de junho. Mas, ainda assim, beijar a Kate é maravilhoso. O que faz de hoje um dia maravilhoso.

Dasha, 24 anos, Rússia

Eu escrevi esse texto, li um pouco, revi um filme e comi mais de três refeições. Talvez possam dizer que, hoje, eu não fiz, simplesmente, nada. Talvez até tenha feito nada, mas o nada pode ser maravilhoso e não prejudicar ninguém. O nada pode até ser necessário. Quando nada te faz bem, o nada é o que te faz bem. Tem dias que você faz o que chamam de tudo. E tudo representa, simplesmente, nada.

Pensando bem, talvez eu até queira (não) fazer nada. Talvez aquelas que considero as melhores pessoas já façam nada.Só que para mim não é nada, e nem para elas. Porque, a longo prazo, tudo que você faz se reduz a nada. Então, façamos do nada o melhor de nós.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Pedido para o próximo ano



"Aceite casar comigo
E aí poderemos começar tudo de novo" 
                              Coffe And Tv - Blur

Sim, próximo ano. Nós já nos conhecemos há tanto tempo, você não acha? Quantas noites eu já não pensei em você antes de dormir?Quantas noites você não veio até minha cama e me beijou tão silenciosamente quanto o vento e me fez perceber que você estava presente em tudo que eu via e graças a isso eu pude fechar os olhos sem nenhuma outra preocupação?

Não é lindo como nossa relação durou? Por mais que eu me esqueça de momentos, por mais que eu tenha chegado a achar que não teríamos futuro nem perspectiva, você continua vindo ao meu encontro. E eu me entrego a você.

Como nós mudamos durante toda essa relação. Espero que para melhor. E como aprendemos novas maneiras de fazer bem um ao outro, novas maneiras de sermos felizes. Você já teve tantos apelidos, meu amor. 2010,2011,2012,2013. Confesso que teve uns apelidos que eu não curti tanto quanto outros. Mas eles já passaram, nem nos chamamos mais assim. Você se transforma de “próximo” para o “último, passado” sem aviso.

Como você consegue mudar tanto e ainda assim possuir tanta beleza, minha paixão? Sou eu que estou te vendo de maneira diferente ou é a maneira que você está se mostrando? Acho que os dois.

Não posso deixar de falar de todas as marcas, as lembranças que cada época com você me deixou, porém posso me esforçar pra fazer dessas marcas, as cicatrizes mais bonitas. A dor com mais ardor. O riso que é partido e partida. A partida que é riso partido.

Também não posso ignorar as tristezas de nossa relação. Quantos arrependimentos pelo o que eu não te fiz, pelo o que você não trouxe. Mas do que adianta tentar mudar o nosso passado? No fundo, eu quero que tudo traga um aprendizado para eu melhorar ainda mais nossa relação. Não só isso, eu queria expandir ainda mais. Que todos pudessem ter uma relação como a nossa. Ou pelo menos que percebessem que podem ter ou já a tem. E que todos também queiram que todos possam ter relações como a nossa. Que chamem de próximo ano, próximo mês, próximo dia, próxima hora.

Eu não irei lhe pedir de joelhos, desculpe. Eu quero que seja algo natural, livre, que não foi controlado.

Eu sei, eu sei. Toda vez que a Terra termina de girar em torno do sol eu te ofereço essa aliança de novo. Mas eu quero continuar a oferecendo. Que ela não tenha valor por ser de ouro(ou melhor, por ter 75% de pureza e ser misturado com prata e cobre), nem por ter sido entregue em Paris, mas sim por ficar bem gasta. Que valorizemos a sua decomposição até que chegue o momento que ela não posso mais ser colocada em nossos dedos. E eu entrego essa nova aliança sem te conhecer. Pois que graça teria se eu já soubesse, sem a surpresa?

Por isso, próximo ano,meu bem;

  Me leve desse mundo grande e mau
  (e o perdoe por ser assim
  Eles não conhecem algo como nossa união
  Por isso o façamos mudar de ação são
...................................
A cada rotação
.........................................
Rota ação)


  E aceite casar comigo
  E aí poderemos começar tudo de novo!

Um rolezinho no polo norte e tu voltou pro mesmo lugar


Dilemas. Paradoxos. Estava eu lembrando da parte 3 do livro “As viagens de Gulliver”, em que os habitantes do reino pensam, especulam tanto que acabam esquecendo-se da pessoa com quem falava e do assunto que era falado. No livro eles são “acordados” pelos chamados batedores. Aqui, no “planeta Terra chamando”, parece que lembramos do assunto somente quando ele vem novamente a tona, porém mal lembramos qual era a pessoa antes, e nem pensamos nesse meio tempo, que nunca acordamos de fato.

Há mais de uma semana ocorreu a série de movimentos denominados “rolezinhos”. Fiquei pensando e sem batedores para me ajudar acabei não escrevendo nada. O Natal também já se foi. Por mais que tenha sido há 4 dias, ele já parece muito distante de nós. Mas, pensando bem, e só eu resolver escrever sobre dilemas, paradoxos e puff...já estou escrevendo sobre eventos que se repetem mas apenas muda-se o contexto.

Diversos textos foram elaborados nos 10 dias anteriores sobre os rolezinhos que acho que praticamente qualquer coisa que eu disser agora soará repetitivo ou com cara de plágio. Só posso dizer que concordo com o aumento do policiamento, afinal em qualquer local quanto mais pessoas presentes, maior o número de policias deve ser para dar uma sensação de segurança ou, de fato, garanti-la. Concordo que o espaço é(ou deveria ser) livre, que todos devem ter o direito de circular, que é deprimente pessoas querendo controlar quem deve ou não estar em tal lugar, não por questões de saúde ou qualquer outra necessidade, mas simplesmente porque acham que determinado grupo vai desvalorizar o local.

Mas não concordo em generalizações. Entre 300 pessoas, pelo menos uma devia estar com más intenções, não há como ser utópico. Mas e se um grupo de classe-média alta, bem-vestidos, gravatas invés de bonés, aparecesse em um local onde eles são a minoria? A polícia também iria aumentar? É provável que sim, mas não para proteger a todos, mas sim para proteger os próprios que se candidataram a passear nesse local “estranho” para eles. Porque a classe-média alta não tem intenção de roubar artigos de shopping, afinal não precisam, podem muito bem comprar isso. Mas as más intenções continuam, só que de outras maneiras, como uma segregação.

Em resumo, foi bom isso acontecer. "Bom acontecer" não significa que é algo que eu gostaria que todos aderissem o conteúdo. É como um programa de televisão ruim. Eu não defendo que as pessoas apoiem as ideologias do programa, mas é bom que elas vejam que elas existem para poderem se tocar que às vezes o que você acha bom não é tão diferente do que você abomina e que devem ser criadas opções melhores. 


Assim como temos os “pobres alienados”, que acabam controlados pelos manipuladores do poder, temos esse tipo de alienação muito comum na classe-média, em que crescem conhecendo a pobreza como um “animal estranho” e correm para se proteger quando a avistam, assim como corremos quando vemos um urso selvagem. E o que tem tudo isso a ver com o polo norte?

Nos últimos anos,na semana de véspera do nascimento do menino Jesus,é comum vermos reportagens como: “Comerciante da 25 de março crê em aumento nas vendas agora que a terá mais clientes, vindos da nova classe-média”. Nova classe média também conhecida como a antiga pobreza só que agora com o poder de compra, fazendo o circulo capital girar, não é feliz para todos?

Jovens da periferia mostrando que agora também podem comprar. A pobreza “selvagem” mostra que agora são iguais aos que sempre puderam. E nada existe sem comparação. Pessoas não postam foto delas comendo no “bar do Joca”, que foi o primeiro lugar que apareceu quando elas estavam morrendo de fome. Elas postam em lugares caros, estão certas, querem mostrar o melhor delas. Só que ai descobrem que o melhor delas não está nelas mesmas, que não se sentem melhor por terem peças da ultimas Fashion-Week, mas se sentem melhor por terem e outras pessoa não terem.É bom que elas descubram isso, ou as melhor, as façamos descobrir, e que busquem algo nelas mesmas. Tanto a “nova classe-média” como a antiga. Afinal, será que a ostentação vale tanto a pena?

Então vem o natal, que ganhamos presentes que iremos esquecer em breve. Que realmente queremos lembrar pelo valor e não pela lembrança. Não estou defendendo que aquele par de meias já manchado que você ganhou seja mais importante porque foi dado com “boa-intenção”. Mas é como aquela roupa que, mesmo não nos servindo mais, hesitamos em doar por todos bons momentos que tivemos com ela. Depois, pensamos bem e vemos que queremos que mais alguém também tenha essa sensação e não nos importamos mais em possuí-la. Não importa o preço, que traga bons momentos.

Espero que você tenha pedido presentes que te tragam boas lembranças no natal, e que o bem velinho tenha lhe atendido. E que essa também seja sua meta de ano-novo. Que em 2014 eu tenha boas lembranças, ou seja, bons momentos. Afinal não há como doar lembranças, elas são totalmente únicas. São o sinal de que você não voltou pro mesmo lugar.


Existência

“Penso, logo existo”

Assim disse o René Descartes no século XV. E assim essa frase ficou existente para todos os outros séculos que viriam. Mas essa frase não pensa, nem temos provas concretas de foi mesmo Descartes que a pensou. O que prova e existência dela então? Nós pensamos que o momento que a Descartes a pensou existiu. Uma frase pode ficar para sempre, com todos concordando da sua existência e sua importância e sem conflitos para provar que ela, de fato, existiu.Com nós, belíssimos seres pensantes, é o contrário.


Já pensamos (pelo menos a maioria) e isso já prova que existimos. Mas queremos mais, sentimos que precisamos de provas, não só de nossa existência, mas de nossa importância e do tempo que existiremos.

Quantos Descartes já existiram? Milhões e ao mesmo tempo só um. Pois inimagináveis pensamentos, incontáveis reflexões que buscaram entender a complexidade de nossa existência já aconteceram e a maioria não ficou famosa, não durou séculos, não chegou nem perto. Mas nenhum Descartes é igual o outro. Aquele Descartes não é igual aos outros porque não é René, nem é francês.Aquele Descartes não é igual aos outros porque derrubou vinho na tia-avó no natal de 94. Aquele Descartes não é igual aos outros porque quebrou o braço enquanto tentava matar uma abelha numa tarde de domingo. Aquele outro Descartes não é igual aos outros porque tem uma pinta no canto esquerdo do nariz.

OPA, ESPERA AI AUTOR! No primeiro texto do seu blog você fala que somos diferenciados pelo o que temos?! Confunde ser e ter na mesma frase, pode isso?
Se pode não sei. Mas há pouco tentávamos descobrir nossa existência, agora já tentamos descobrir o que somos. Agora tente se lembrar daquela vez que te perguntaram como era a Mariazinha:
“Mariazinha é jovem, cabelos castanho-claros. Joga vôlei. É bem esperta só que sem senso de humor. Magra ou gorda? Ah, eu diria que ela é bem gostosa”.
Mas Mariazinha é seus cabelos castanho-claros ou tem seus cabelos castanho-claros? Mariazinha é sem senso de humor ou não possui senso de humor? Mariazinha é gostosa ou possui um corpo que a faz ser chamada assim?


Ser e ter, uma discussão interminável e até empolgante. E que se justifica muito pelas palavras que escolhemos. Porque ter remete àquilo que controlamos (ou achamos que controlamos), que nos faz agir de maneira muitas vezes robótica e não entender que não precisamos de posses para ser.
O ser é admissão que mudamos e que ao mesmo tempo temos escolhas do que fazemos mas não controlamos totalmente o que somos.Temos passado,presente e futuro ou somos passado, presente e futuro?Afinal, somos nossas ações, nossos desejos, nossos pensamentos. E, assim como Descartes, somos nossas palavras, nossos pensamentos convertidos em sílabas mágicas, que expressam aquilo que éramos algum dia.


Viu como duas palavrinhas tão pequenas geram tanto o que se discutir apenas por sua abstração?
E é por isso que se inicia aqui esse blog. Porque,por mais que não toquemos literalmente nele, sua concreticidade é menos discutível que a dos meus pensamentos.Porque quero que alguém mais seja(ou tenha) parte dos meus pensamentos, da minha existência. Porque quero que (meus pensamentos) se tornem palavras, registros que eu realmente pensei, realmente existi. Que não durem séculos, porém o suficiente para eu desfrutar de minha existência.


“Penso, logo existo”. Existo, logo procuro o que fazer nessa existência. E é nessa busca incessante para o “não-tédio” que nossa humanidade deu existência a tantas coisas, uteis ou não. E assim eu dou existência a esse blog.